Como se canta o louvor de uma cidade? Como se fala da virtude das suas gentes, da sua riqueza, das suas histórias? Mais ainda, como se louva uma cidade capaz de renascer das cinzas como a mítica fénix? João de Pavia, o autor da Descrição da Cidade de Viseu, poema épico datado de 1638, teria à sua disposição modelos variados, desde descrições de cidades da Antiguidade, de cidades santas como Jerusalém e Roma, ou mesmo da excelentíssima cidade de Lisboa, de que é o melhor exemplo a publicação do conhecido elogio latino, em Évora, em 1554: a Descrição da Cidade de Lisboa do humanista Damião de Góis.
O seguimento dos modelos está visível nos factos eleitos como merecedores de rasgado encómio, desde a paisagem e riquezas naturais, aos monumentos da cidade, à qualidade das gentes e ao seu património cultural; mas o aspecto que merece maior ênfase é o facto de esta Descrição se construir como um poema épico, substituindo a ductilidade da prosa pelo constrangimento métrico e rítmico do verso, vendo nesta estrutura a forma privilegiada de enobrecer o objecto de descrição.
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Depois de ler a obra, e o texto sobre a obra, pensei em ilustrar uma passagem de um dos cantos, no entanto, não me parecia justo escolher um de entre outros. Pensei então basear-me na misteriosa figura de João de Paiva, o autor da Descrição da cidade de Viseu. Desenhei a figura do poeta sobre os papeis em sonhos, remetendo para o carácter fantástico e épico da obra, assim como para as várias alusões a aparições em sonhos que existem ao longo do texto. Sobre João de Paiva pouco é dito, e esse mistério que envolve o autor, eleva-lhe o interesse, em relação á grandiosa obra que escreveu.
O desenho foi feito à mão, com tinta da china e pincéis, e posteriormente digitalizado para se fazer o acabamento com as texturas e a inserção de imagens do texto original, presentes no livro de Sara Augusto.
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